Observando a conversa de
duas crianças na calçada de minha casa, pude fazer uma viajem mental e
lembrar-me dos velhos assuntos conversados entre eu e meus colegas no tempo da
mais pura e inocente infantilidade. Tantas brincadeiras, conversas paralelas, mentirinhas
e fuxicos que foram com o passar dos anos esquecidos e cederam lugar as novas
estéticas de pensamento.
Sinto
saudades de ir à escola as segundas pela manhã e falar sobre o final de semana,
as novas amizades, as novas brincadeiras, as travessuras e as broncas levadas
em casa. Rir de tudo sem maldade na mente, levar a vida como um pagode, não ter
preocupações nem ouvir falar sobre as crises mundiais que acercam o nosso mundo.
Sinto
saudades de respirar um ar puro, de cair e chorar, mas em seguida levantar
novamente. Sinto falta daquele velho estilo de criação, onde éramos soltos na
rua, brincávamos e brigávamos, mas em um minuto tudo estava resolvido e
fazíamos as pazes novamente. Queria voltar ao tempo em que namorar era até
brincadeira e que sexo era coisa de cinema, até porque não podíamos assistir
nenhum beijo de boca nas cenas de novela, pois os pais zelavam pela
infantilidade e inocência mental de seus filhos.
Sinto
falta da professora do fundamental que nos aconselhava e ia de carteira em carteira
ajudar-nos a fazer o exercício, e além de nos ensinar as matérias pedagógicas,
nos alertava para os perigos do mundo. Parece que ela e nossas mães eram
videntes e sabiam cada passo que iriamos dar.
Hoje
as crianças fumam, bebem, escutam funks pornográficos e ostentativos. Na minha
infância, beber, só água ou suco, fumar só era pra Maria Florzinha e as músicas
eram cantorias que passavam no rádio de pilha de meus pais.
Passei
mais ou menos uma hora nessa viajem e voltei à realidade com lágrimas nos olhos
e vi que o nosso mundo avança cada vez mais para uma autodestruição, e o pior,
não dá mais pra voltar àqueles velhos tempos que sempre ficarão guardados numa
pontinha de nossa mente. Resta-nos agora a saudade e o gostinho de quero mais.
