segunda-feira, 4 de maio de 2015

A última noite

Cena do filme "Stone"

             Era uma quarta feira, o final da tarde anunciava uma noite promissora, íamos nos encontrar na minha casa, já tinha arrumado tudo, a sala estava com o brilho mais perfeito que pudesse existir, os corrimões da escada eram como espelhos de tão limpos. O jantar estava organizado, separei o melhor vinho que tinha para aquele momento. As camas, essas estavam perfeitas, pois nelas, passaríamos a melhor parte da noite.             
            Eu andava de um lado para o outro da sala esperanto o toque da campainha que avisaria a chegada do âmago da minha noite. Já eram oito e meia, e ela tinha dito que chegaria às sete. A ansiedade e o medo dela não aparecer infernizavam minha cabeça e deixavam-me ainda mais nervoso. Nove horas. O barulho da campainha quebrara o silencio daquelas horas que pareciam não passar.
            Olhei no espelho todos os detalhes na minha aparência e corri até a porta. Fui abrindo-a vagamente. O brilho de sua roupa já adentrara em minha casa. Estava linda, mais radiante que qualquer cristal existente no mundo. Minha boca trêmula, quase não conseguia dar um ‘Boa Noite’. Entrou devagarzinho, dei-lhe um beijo na mão como cumprimento. Ela sorriu, seus olhos brilhavam como dois rubis.
             Sentou-se a mesa comigo e logo começamos a tomar taças e mais taças de vinho. Seus olhos e o calor do seu corpo misturavam-se comigo. Era impossível continuar em um clima discreto, pois a excitação de um momento tomou conta de nós dois. Levantei-me e convidei-lhe a ir para o quarto. Não pensou duas vezes, agarrou-me os braços fortemente e me beijou. Subimos para o primeiro piso da casa, a cama já estava preparada, despi-a das roupas, você rasgou minha camisa e puxou-me para cima de ti. Agora não éramos mais um simples casal. Naquele momento parecíamos uma pessoa só.
            Ela era dessas mulheres de enlouquecer qualquer um, mas apenas eu tive o prazer de quebrar suas paredes. No outro dia pela manhã, acordastes logo cedo, meio que assustada quando viu a que ponto chegamos. Eu estava preparando a mesa para o café da manhã. Quando ela apareceu nas escadas e sorriu pra mim, não quis tomar café. Deu-me um beijo e disse apenas que estava apressada. Despedimo-nos. Jamais poderia imaginar que aquela seria nossa primeira e última noite juntos.
            Uma hora após sua saída veio à notícia. No caminho para sua casa, fizestes uma ultrapassagem perigosa que colocou um ponto final na sua vida. Meu mundo desmoronou naquele momento. Fui imediatamente ao local do acidente e banhei-me em lágrimas ao ver aquela figura tão linda no meio daquelas ferragens. Não conseguia tirar do pensamento que na noite passada havias sido desvirginada por mim, e agora estavas ali, dilacerada, deformada, porém aos meus olhos continuavas linda.
            Hoje, três meses depois, ainda posso sentir os calores e os suor de seu corpo entrelaçado ao meu. O seu cheiro ainda permanece naqueles lençóis que mesmo depois de lavados não foram libertos daquele perfume que você transpirava. A sala, a mesa, os lugares por onde você passou em minha casa ainda guardam sua imagem. Todas aquelas cenas formam um filme a passar em minha mente. Queria que tudo aquilo não passasse de uma ilusão... um sonho. O sentimento de inconformação ainda está presente em mim. Porém as lembranças daquela noite maravilhosa e a certeza de que tudo estava ao seu agrado deixam-me feliz. A força de um amor só pode ser medida quando nos separamos.

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