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do site: http://www.oficinadeconsciencia.com.br/
Atormentado
pelo medo e pela angustia de viver em um mundo injusto em todos os sentidos,
vivia particularmente trancado em um silêncio profundo que gritava dentro de
mim. Passei a ficar castro de ideias e pensamentos, criei um mundo de almas que
pertencia apenas a mim. Resolvi que viveria ali, preso àquela solidão que me
fazia bem e me deixava mais tranquilo. Quando precisava de algo, usava um
aparelho celular que quase sempre estava desligado e telefonava para alguém ir
comprar.
Maldito dia em que o celular não
funcionou e eu para não morrer de fome, me senti obrigado a descer a escadaria
do prédio e ir até a venda que ficava apenas a duas quadras dali. Sorrateiro
como um gato, ia devagarzinho de degrau em degrau, para ninguém escutar que eu
estava passando por ali. De repente, um barulho! Alguém ia subindo as escadas, meus
olhos se escandalizaram e um terror tomou conta de mim. Continuei, suando de
medo e temor, e dei de cara com uma senhora, que para minha felicidade não me
dirigiu nenhuma palavra. Acalmei-me e continuei a descer, chegar à rua era a
parte mais difícil pra mim.
Abri vagarosamente a porta do prédio
e fui saindo aos pouquinhos, como se temesse algo, afinal eu temia a tudo. Saí
de cabeça baixa, e só escutei quando alguém disse “Boa tarde”, com um tom
exclamativo e de muita alegria, não queria levantar a cabeça, pois tinha medo
do que poderia acontecer. A pessoa repetiu novamente a mesma saudação. Então
levantei a cabeça e vi a mesma senhora que encontrei na escadaria do prédio.
Rapidamente a saudei, baixei a cabeça e continuei a andar. O caminho até a venda
era muito pequeno, porém para mim parecia não ter fim, gastei trinta minutos
para cruzar as duas quadras e chegar até lá.
Dirigi-me até o local onde ficava o
que eu queria, peguei em grandes quantidades o que eu precisava, para não
precisar voltar nem tão cedo. Paguei e quando ia saindo, deparei-me com uma
cena que sempre ficará marcada em minha vida. Um homem de aparência familiar
tentou assaltar uma mulher, entretanto ela reagiu e ele atirou contra ela. Não
sei o que aconteceu com aquela moça, o rapaz fugiu apressadamente e eu corri
até minha casa. Entrei e me refugiei em um canto de parede, sabia somente
chorar. Aquela cena lembrava-me o motivo pelo qual eu estava triste e solitário
daquele jeito, a morte da minha esposa e da minha filha que também foram
assassinadas. As feições do rapaz passavam como um filme em minha cabeça.
Parecia ser o mesmo autor das duas fatalidades.
Tentava não me prender a esse
pensamento, porém era mais forte do que eu e tomava conta da minha mente.
Depois de chorar três horas consecutivas levantei-me e fui para meu quarto
tentar dormir um pouco. As almas gritavam muito alto, era quase impossível
descansar. Vidrei meu pouco pensamento em algumas fotos que tinha na parede e
fui silenciando a angustia aos pouquinhos. Um pensamento vinha num fio de
neurônio e protestava dentro de mim dizendo: “A morte chega para todos, só não
chega para esse corpo”. Viver vegetando, sem direção ou objetivos não é tão
agradável. Os únicos amores que eu tinha nesse mundo foram destruídos. Só restava-me
agora um único amor, Deus, e eu desejava apenas ir para junto dele. Deverei
viver assim, nesse silêncio gritante dentro de mim, por uns vinte ou trinta
anos ainda, esperando naquele mundo de almas, a chegada da tão esperada morte.

agora fiquei pensativo ,que coisa ,mais e muito boa a cronica !!!!
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